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ACTION LEARNING para MUDAR O MUNDO JÁ - Por Andréa Nery


O ano de 2020 ficará marcado na história da humanidade e esta é uma certeza que todos temos ainda que estejamos vivendo intensamente este momento e não seja possível ter clareza de como a história será contada.


Experimentamos variadas formas de interação que já estavam ao nosso alcance, mas que não imaginávamos que seriam usadas para substituir nossa presença e contato físico.


E foi neste contexto que realizei minha certificação em Action Learning, em uma turma com formato “híbrido” pela força das circunstâncias, iniciada de forma presencial e finalizada de forma online, em meio a insegurança diante das ações que começavam a ser tomadas para lidar com o desconhecido.


Foi muito marcante como as sessões de Action Learning que realizamos durante a certificação traziam questões individuais de situações que emergiam coletivamente, pois naquele momento, quem de nós não se preocupava em como conseguir cuidar de um ente querido, ou como equilibrar trabalho e vida pessoal num mesmo ambiente, ou ainda, como lidar com o isolamento social... questões vivas, urgentes e importantes que provocavam a pergunta mais sincera e profunda de cada um de nós.


A intensidade e velocidade deste passado tão recente foi tanta que colhemos frutos muito concretos, eu levei o Action Learning para o mundo online e o usei como base para ajudar muitos times a desenvolver segurança psicológica e solucionar questões valorizando a diversidade e desenvolvimento de habilidades de liderança essenciais para estes tempos.


Uma experiência em particular fechou o ano de 2020 com resultados muito positivos e concretos e nela me inspiro hoje para compartilhar com vocês a força que o Action Learning tem para promover transformações e unir as pessoas permitindo criar soluções de forma inovadora e coletiva.


O convite foi para participar de um festival internacional com duração de 21 dias, neste período os participantes deveriam vivenciar uma experiência que os colocasse em ação na direção de mudar o mundo a partir do que já é possível aqui e agora.


O Festival Internacional - Muda Mundo Já foi uma iniciativa no Brasil de um grupo que vem trabalhando com a Teoria U e diversas práticas que promovem maior conexão do indivíduo com os sistemas a que ele pertence, gerando mais consciência para busca de resultados do coletivo para o coletivo.


Para marcar minha participação na versão 0.8 do festival – formato protótipo para colher resultados e evoluir – propus uma experiência que tinha o Action Learning como base para busca de soluções, ações e aprendizado e testei um formato que ao longo dos 21 dias estimulava os participantes a refletir sobre o poder das perguntas.


Lembrando das vivências que vinha experimentando com a prática de Action Learning em grupos, ele surgiu como uma proposta natural para o festival, pois permite trabalhar a busca de ações concretas para problemas reais, urgentes e importantes que podem colocar as pessoas em movimento para mudar o mundo. Além disso, o Action Learning complementa práticas utilizadas para capturar e perceber as informações disponíveis no campo, como o Teatro da Presença Social – usado na Teoria U – e as constelações individuais e organizacionais.


Os inscritos na experiência “Perguntas Mudam o Mundo” passaram por três trilhas diferentes que se complementavam e que tinham como objetivo desenvolver um olhar para o potencial das perguntas e seu papel nos processos colaborativos e de aprendizagem. (Ver quadro: Visão do contexto da experiência)


Visão do contexto da experiência

1ª trilha – toda manhã, ao longo do festival, os participantes recebiam um áudio com uma pergunta que os estimulava a uma reflexão para aquele dia. Alinhado a jornada da teoria U as perguntas permitiam um mergulho na questão pessoal e contexto, e promoviam um alinhamento e abertura da mente, coração e desejo. Vejam alguns exemplos:

“O que você faria se fosse 100 vezes mais ousado? Que decisão pode surpreende-lo?”

“O que você precisa deixar ir para que algo novo chegue? O que lhe impede de deixar ir?”

“Qual a pior e a melhor coisa que pode acontecer se você fizer o que mais deseja?”

Deixo aqui uma visão das perguntas refletidas sobre o processo da Teoria U.

2ª trilha – todo final do dia, ao longo do festival, os participantes recebiam uma frase que trazia uma referência sobre a importância e poder das perguntas. A ideia foi ampliar os horizontes de tempo e diversidade e provocar as pessoas a olhar as perguntas por perspectivas diferentes. Ofereço aqui um dos pensamentos que encaminhei para os participantes.

3ª trilha – três encontros online para aplicação de Action Learning, onde um dos participantes, escolhido pelo grupo, se beneficiava da prática utilizando a diversidade do grupo para busca de soluções e ações concretas.


Na última trilha os encontros de Action Learning convidavam os participantes para uma dinâmica colaborativa de solução de problema associada a um processo de aprendizado de habilidades de liderança, ela representava o convite principal de usar as perguntas para mudar o mundo já.


O primeiro encontro foi um aquecimento, uma reflexão sobre diálogo, conexão, colaboração e aprendizagem. Uma preparação para que o grupo pudesse se debruçar sobre os problemas que estavam vivendo, desafiando um padrão de comportamento onde as pessoas não refletem sobre o problema, acreditam que devem ter respostas para tudo, e usam as perguntas para confirmar suas crenças.


Neste encontro refletimos sobre as diferentes motivações que podem estar por trás das perguntas e como a consciência da intenção pode interferir na qualidade da resposta. E para tirar o grupo do padrão, um jogo que estimula perguntas criativas foi a ferramenta para escutar questões e oferecer perguntas que saiam do lugar comum.


“No começo foi muito difícil encontrar as perguntas, notei que estava acostumada com perguntas que buscavam reforçar minha própria crença e não alimentar a curiosidade que leva o outro a uma solução. Mas, com o jogo foi ficando mais fácil, e fui entendendo o poder das perguntas criativas e bem-intencionadas.”


“Fiquei surpresa como um jogo de perguntas me ajudou tão rapidamente a refletir de forma diferente sobre a minha questão! É incrível como pessoas diferentes podem nos ajudar a olhar para outros aspectos que não olhamos.”


O segundo encontro realizado com um grupo de 6 pessoas, o problema era encontrar formas de aumentar o envolvimento e engajamento das pessoas em projetos sociais, e ajudou um dos participantes a buscar soluções para o projeto social em que está envolvida e refletir sobre como tirar as pessoas de suas “bolhas”. Nas palavras de quem trouxe o problema:


“Fui ajudada pois as perguntas foram me fomentando e nutrindo, ampliou minha percepção e pude ver e ouvir que não é algo que só eu estou vivendo. Saio com uma ação concreta de envolver outras pessoas para desenvolver ações de reflexão, terei mais paciência para trazer quem já está dentro do processo pois precisamos dos diferentes pontos de vista. Entendi que existem diversos caminhos de inclusão e devo aplica-los.”

E o grupo percebeu que,


“Estamos expandindo a “bolha”, dando visões e profundidades, penetramos em novas camadas deste problema.”


O terceiro encontro contou com 10 participantes, pois as pessoas que haviam vivido a experiência trouxeram convidados! O problema escolhido pelo time foi de como melhorar a captação de recursos para uma ONG. Na aplicação do Action Learning é muito relevante o momento de esclarecer o problema e obter um consenso sobre ele ou algum aspecto dele, e aqui não foi diferente! Ao promover perguntas para entendimento do problema o grupo foi extraindo outras questões que revelaram o problema real: a falta de conhecimento das pessoas sobre os benefícios e necessidades atendidas pela ONG.


E foi a partir daí que a responsável desenvolveu suas ações:


“Preciso treinar meu discurso, me preparar para apresentar para pessoas fora do meu ecossistema.”


“Vou ampliar minha rede e ir mais fundo em diferentes fontes de recursos, tenho aberto aqui um leque de oportunidades.”


O grupo, neste encontro, percebeu a força do trabalho coletivo e compartilhou aprendizados que estão na raiz do Action Learning:


“Não preciso entender de tudo para contribuir e aprender.”


“Posso confiar na inteligência maior que emerge da diversidade de todo o grupo.”


“As perguntas e a estrutura da prática são muito poderosas para prática do trabalho em equipe.”


“Se me coloco em uma posição vulnerável e curiosa minhas perguntas contribuem para o todo, é um alívio não precisa ter todas as respostas.”


“Toda experiência me permitiu perceber que cada um tem seu tempo, que as perguntas têm o papel de provocar sem trazer julgamentos, que cada um vai até onde pode receber, que tudo esta certo como acontece, que é possível estar a serviço da questão do outro e ao mesmo tempo atento a desenvolver nossas habilidades de liderança.”


Levar a experiência do Action Learning para o Festival Muda Mundo Já foi muito enriquecedor, os participantes, de lugares diferentes, muitos se encontrando pela primeira vez no ambiente online, foram se desenvolvendo e se fortalecendo como time e as práticas começaram a mudar o lugar ocupado pelas perguntas.


A visão de que as perguntas são sinal de fragilidade, que elas intimidam, e colocam as pessoas na defensiva se transformou, pois foram as perguntas que tornaram os participantes protagonistas de um resultado que valoriza a diversidade e promove um entendimento mais profundo da questão abrindo horizontes para as alternativas encontradas.


Para navegar em um mundo de incertezas e volatilidades na busca de aprendizado e inovação esta experiência em soluções de problemas complexos fortalece o time e quebra padrões de comportamento que já não nos atendem mais.


“Me marcou ter as regras claras, o tempo definido, o grupo engajado e sua condução bastante assertiva e apreciativa! Fez a diferença poder olhar para nós como grupo, durante e depois, para vermos o que criamos, e também como praticamos o que nos propusemos a praticar!”


Com o Action Learning minha contribuição para times que precisam contar com segurança psicológica em processos de mudança e transformação ficou ampliada, e este último ano reforçou que esta será uma necessidade cada vez maior para quem quiser se desenvolver e trazer soluções mais inovadoras para seu negócio.


Minha participação no Festival Muda Mundo Já deixou claro que ser coach de Action Learning vai além de ser guardião da metodologia e ter um papel que garante o aprendizado e desenvolvimento de todos os participantes, é também contribuir como um agente ativo para implementar a mudança cultural tão necessária para nossos tempos, e aprender muito com o que emerge, se desenvolvendo a cada sessão junto com os times.


Andréa Nery

Coach de Action Learning, sócia fundadora da We Holon onde trabalha com consultoria sistêmica, coach individual e de equipes, e facilitação. Atua em empresas suportando seus processos de mudança e transformação contribuindo com sua vivência em diferentes culturas e experiência executiva de mais de 30 anos no mercado financeiro onde foi responsável por liderar times internacionais em grandes projetos de mudança cultural e tecnológica. É membro da ICF (International Coach Federation).

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